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Tratamento Homeopático da Incontinência Urinária em cadelas castradas

Foto do escritor: M.V. Claudia BarbieriM.V. Claudia Barbieri

A incontinência urinária (IU) é definida como perda involuntária de urina durante a fase de enchimento da bexiga [1], podendo ser decorrente de alterações hormonais, estruturais e funcionais na bexiga, bem como alterações na composição da uretra [11]. Cadelas jovens podem apresentar incontinência congênita [14], mas estudos mostram que metade recupera a continência após o primeiro ou segundo cio [7].

 

Em cadelas adultas pode-se encontrar, além da incontinência congênita, a forma adquirida da doença [6], sendo um problema comumente observado na prática veterinária, além de ser uma complicação comum e previsível da castração em cadelas [5].

 

A incompetência do mecanismo do esfíncter urinário é a causa mais comum de incontinência urinária em cães [10], ocorrendo principalmente em fêmeas castradas, vários anos após a esterilização [4]. Acomete principalmente fêmeas castradas acima de oito anos de idade e 20 kg de peso [5]. Não obstante este dado, na minha prática posso dizer que pelo menos 70% das pacientes eram de pequeno porte. No que tange à idade de realização da castração, não há relação com o desenvolvimento da doença, a menos que seja efetuada antes das 12 semanas de idade [12]. Adicionalmente, uma maior taxa de incontinência urinária foi observada em cadelas castradas antes do primeiro cio [13].

 

Quanto à predisposição racial, alguns estudos mostram que certas raças são mais predispostas a desenvolver a doença, tais como Dobermann Pinscher, Schnauzer Gigante, Old English Sheepdog, Rottweiler, Weimaraner e Boxer [3].

 

A etiologia da doença é complexa e envolve os músculos lisos da uretra, bem como os tecidos adjacentes e outros fatores. Quando há o colapso deste conjunto, ocorre uma menor contração muscular e alterações no tônus dos tecidos periuretrais. Em fêmeas, essas alterações parecem estar associadas com uma redução do estrógeno e aumento do FSH (hormônio folículo estimulante) e LH (hormônio luteinizante) após a castração, sendo denominada incontinência hormônio responsiva [2].

 

A doença pode aparecer alguns anos após a castração, mas o seu início varia bastante.  Em cães com comorbidades, como poliúria (aumento da produção de urina), o problema pode aumentar, já que o aumento do volume armazenado causa uma elevação da pressão intravesical e o esfíncter, que já está comprometido, não consegue conter o vazamento de urina [3].

 

Dentre os principais sinais clínicos, destacamos a  perda involuntária de urina quando o animal está deitado ou relaxado, não sendo a ocorrência quando o animal está acordado e ativo.  Também pode haver um aumento da lambedura na região ao redor da vulva, por conta da incontinência. Esta lambedura pode contribuir para o desenvolvimento de  dermatite perivulvar que pode levar ao aumento do risco de desenvolvimento de infecção do trato urinário [3] causada por bactérias ascendentes [5]. Não são observadas grandes alterações no exame físico destes animais, exceto pelas manchas de urina ou dermatite na região perivulvar (ao redor da vulva).

 

O tratamento na medicina veterinária convencional pode ser feito mediante reposição de estrógeno, utilização de medicamentos alfa agonistas ou com a combinação de ambos, já que seus efeitos são sinérgicos (SPAIN et al., 2004; 4].

 

Porém, esta modalidade de tratamento tem efeitos adversos dentre os quais desenvolvimento das glândulas mamárias, aumento de volume da vulva e atração de machos. Tais efeitos são dose dependentes e normalmente se resolvem com a redução da dose. Entretanto, o efeito colateral mais sério e irreversível é a aplasia de medula. Contudo, é importante notar que as doses que causam aplasia de medula são bem mais elevadas do que a dose utilizada para o tratamento clínico da incontinência urinária [3].

Caso o animal não tolere ou não responda ao tratamento clínico, existe a possibilidade de  intervenção cirúrgica, porém os resultados são variáveis e tem pouca eficácia a longo prazo [5].

 

Existe também a possibilidade de fazer o tratamento homeopático. A homeopatia é uma forma de medicina descoberta pelo médico alemão Samuel Hahnemann em 1796, baseada na lei dos semelhantes (“semelhante cura semelhante”), representando um método que se adapta à totalidade sintomática do doente [8]. Esta totalidade de sintomas tem grande importância na escolha do medicamento apropriado para estimular uma resposta curadora do paciente [15].

 

Pode ser encarada como um método de individualização do medicamento mais semelhante ao paciente, ou seja, o remédio homeopático terá o maior número possível de semelhanças com a totalidade das condições físicas e emocionais observados em um indivíduo, a fim de efetuar uma cura de uma maneira profunda e duradoura [15].

 

Neste sentido, não podemos dizer que há um medicamento específico para a cura da incontinência urinária, mas sim, diversos medicamentos homeopáticos que, dentre as suas inúmeras características, tem um tropismo pelo sistema urinário, sendo aplicados com sucesso no tratamento da incontinência urinária pós-castração. O veterinário deverá considerar todos os sintomas do paciente, não só a nível físico, mas também a nível mental, o que determinará a escolha do melhor medicamento, através de uma prescrição individualizada. Um estudo realizado no Reino Unido [9] mostrou que o tratamento homeopático da incontinência urinária teve sucesso em mais de 70% dos casos, sendo que na maioria dos casos, foi feita uma prescrição individualizada.

 

Quanto ao tempo de tratamento, como todo e qualquer tratamento homeopático, a resposta dependerá da reação do paciente. Existem casos que são necessárias doses repetidas em determinadas potências, por um longo período. Em outros, uma ou duas doses do medicamento serão suficientes. Normalmente, em homeopatia, o que se observa é que quanto mais antigo e mais crônico for o quadro do paciente, mais tempo será necessário para que o organismo retome o equilíbrio, mas não existe uma regra geral, já que o tratamento homeopático, como dito anteriormente, é individualizado.

 

Dentro da minha prática clínica, já consegui manejar com sucesso casos de incontinência urinária pós castração com homeopatia. Adicionalmente, este assunto foi tema da minha monografia no curso de Especialização em Homeopatia e além dos casos clínicos, a literatura, ainda que restrita, também demonstra que esta modalidade de tratamento é bem sucedida e pode ser utilizada com sucesso, proporcionando um processo de cura suave, profundo e duradouro.

 

REFERÊNCIAS

 

1.     ABRAHMS, P. et al. The standartisation of terminology in lower urinary tract function: report from the standardization sub-committee of the international continence society. Urology, New York, v. 61, p. 37-49, 2003.

 

2.     ARNOLD, S. et al. Urinary incontinence in spayed bitches: new insights into the pathophysiology and options for medical treatment. Reproduction in domestic animals, v. 44, Suppl 2, p. 190-192, July, 2009.

 

3.     BYRON, J. K. Diseases of abnormal micturition. In: ETTINGER S. J., FELDMAN, E. C. Textbook of Veterinary Internal Medicine, 8 ed., Saunders, 2017, cap. 333, p. 2010 - 2016, v. 2.

 

4.     BARTGES, J. W. Urethral diseases. In: ETTINGER S. J., FELDMAN, E. C. Textbook of Veterinary Internal Medicine, 8 ed., Saunders, 2017, cap. 335, p. 2020 - 2027, v. 2

 

5.     DAVIDSON, A. P., Reproductive disorders in the neutered male or female dog. In: ETTINGER S. J., FELDMAN, E. C. Textbook of Veterinary Internal Medicine, 8 ed., Saunders, 2017, cap. 319, p. 1893 - 1894, v. 2.

 

6.     HOLT, P. E. Urinary incontinence in the male and female dog: does sex matter? World Small Animal Veterinary Association World Congress Proceedings. Rhodes, Oct. 2004.

 

7.     HOLT, P. E. Urinary incontinence. In: HOLT, P. E. Urological Disorders of the dog and Cat, 1 ed. Manson Publishing Ltd., 2008, cap. 8, p. 133-159.

 

8.     KOSSAK-ROMANACH, A. Homeopatia em 1000 conceitos, 3 ed., Elcid, São Paulo, 2003.

 

9.     MATHIE, R.T. et al. Homeopathic prescribing for chronic conditions in feline and canine veterinary practice. Homeopathy, Stuttgart, v. 99, n. 4, p. 243-248, Oct. 2010.

 

10.  NOEL, S. et al. Acquired urinary incontinence in the bitch: update and perspectives from human medicine. Part 2: the urethral component, pathophysiology and medical treatment. Veterinary Journal, London, v. 186, n. 1, p.18-24, Oct. 2010.

 

11.  REICHLER, I.M.; HUBLER, M. Urinary incontinence in the bitch: an update. Reproduction in Domestic Animals, v. 49, Suppl. 2, p. 75-80, 2014.

 

12.  SPAIN, C.V. et al. Long-term risks and benefits of early-age gonadectomy in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, Schaumburg, v. 224, n. 3, p. 380-387, Feb. 2004.

 

13.  STÖCKLIN-GAUTSCHI et al., The relationship of urinary incontinence to early spaying in bitches, Journal of reproduction and fertility, Cambridge, Suppl. 57, p. 233-236, Jan. 2001.

 

14.  THOMAS D.M.; YOOL, D.A. Delayed-onset urinary incontinence in five female dogs with ectopic ureters, Journal of Small Animal Practice, v. 221, p. 224-226, 2010.

 

15.  VOKEROTH, W. G. Veterinary homeopathy: an overview, Complementary and alternative veterinary medicine, Ottawa, v. 40, n. 8, p. 592-594, Aug. 1999.





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