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Homeopatia Veterinária em Perspectiva: Reflexões sobre Ciência, Ensino e Prática Clínica

Novembro é o mês da conscientização sobre a homeopatia – uma forma de medicina que busca tratar o individuo de modo integral, considerando corpo, mente e emoções. Na medicina veterinária, essa abordagem vem ganhando cada vez mais espaço, especialmente entre tutores que buscam terapias naturais, seguras e integrativas para seus pets.


Não obstante o crescente interesse, a homeopatia veterinária ainda enfrenta desafios importantes no campo acadêmico. Um estudo conduzido por Coelho, Minami e Balbueno (2022) mostrou que das 70 faculdades de medicina veterinária do estado de São Paulo, apenas quatro oferecem a disciplina de homeopatia, o que representa menos de 6% do total. Sem mencionar que em muitas universidades, esta especialidade é absolutamente combatida refletindo o desconhecimento e falta de interesse por parte de muitos docentes. Como consequência, a maioria dos futuros veterinários se forma sem contato algum com essa especialidade que é oficialmente reconhecida pelo CFMV desde 1995 (Resolução nº 625/95) limitando a difusão de práticas baseadas na individualidade e no equilíbrio energético dos animais.


Não obstante esta lacuna no ensino, a produção científica na área vem crescendo. Pesquisas nacionais e internacionais vêm demonstrando resultados promissores em diversas espécies e condições clínicas, incluindo insuficiência cardíaca leve em cães (Balbueno et al., 2020), infecções urinárias (Coelho et al., 2017), controle da dor pós-operatória (Travagin et al., 2021) e até tratamento de pododermatite em pinguins-de-Magalhães (Narita et al., 2021).


Além disso, estudos de revisão como os conduzidos por Lees et al. (2016, 2017) trazem uma análise crítica sobre os desafios metodológicos que envolvem a avaliação da eficácia de terapias homeopáticas, ressaltando a importância de desenhos experimentais robustos e reprodutíveis. Mesmo quando os mecanismos de ação não são completamente explicados dentro dos parâmetros da farmacologia clássica, os autores reconhecem que a homeopatia desperta interesse crescente por parte de veterinários e tutores, especialmente quando observada em contextos de efetividade clínica, isto é, no benefício percebido no mundo real.


Esse diálogo entre a medicina baseada em evidências e as terapias integrativas é fundamental, não só no âmbito da Homeopatia mas em todas as terapias complementares, como o Reiki, por exemplo. O conceito de medicina integrativa, descrito por Boon et al. (2004), propõe uma prática centrada no paciente, seja animal ou humano, com foco em prevenção, bem-estar e parceria entre profissional e tutor. Assim, a homeopatia deixa de ser vista como oposição à medicina convencional e passa a ser parte de um cuidado mais completo e respeitoso.


De forma complementar, o cenário global também mostra um crescimento contínuo no uso da homeopatia veterinária. O segmento de medicamentos homeopáticos para pets, por exemplo, cresce entre 5% e 7% ao ano, impulsionado pela busca por opções mais naturais, sustentáveis e com menor risco de efeitos adversos. Essa tendência acompanha uma transformação na forma como os tutores enxergam seus animais: não mais como propriedades, mas como membros da família multiespécie.


Por isso, o mês de novembro é mais do que uma data simbólica - é uma oportunidade para refletir sobre o papel da homeopatia dentro da medicina veterinária moderna. Ensinar, pesquisar e praticar homeopatia com base científica e ética é investir em uma medicina do futuro: integrativa, responsável e centrada no bem-estar animal.


Referências

  1. BALBUENO, M. C. S.; PEIXOTO JÚNIOR, K.; COELHO, C. P. Evaluation of the efficacy of Crataegus oxyacantha in dogs with early-stage heart failure. Homeopathy, v. 109, n. 4, p. 224–229, 2020.

  2. BOON, H. et al. Integrative healthcare: arriving at a working definition. Alternative Therapies in Health and Medicine, v. 10, n. 5, p. 48–56, 2004.

  3. COELHO, C. P.; MINAMI, R. A.; BALBUENO, M. C. S. Homeopatia nas universidades de medicina veterinária no estado de São Paulo, Brasil. Conjecturas, v. 22, n. 2, 2022. DOI: 10.53660/CONJ-906-I16.

  4. COELHO, C. P. et al. Homeopathic medicine Cantharis modulates uropathogenic E. coli (UPEC)-induced cystitis in susceptible mice. Cytokine, v. 92, p. 103–109, 2017.

  5. LEES, P.; CHAMBERS, D.; PELLIGAND, L.; TOUTAIN, P.-L.; WHITING, M.; WHITEHEAD, M. L. Comparison of veterinary drugs and veterinary homeopathy: Part 1. Veterinary Record, 2016. DOI: 10.1136/vr.104278.

  6. LEES, P.; CHAMBERS, D.; PELLIGAND, L.; TOUTAIN, P.-L.; WHITING, M.; WHITEHEAD, M. L. Comparison of veterinary drugs and veterinary homeopathy: Part 2. Veterinary Record, 2017. DOI: 10.1136/vr.104279.

  7. NARITA, F. B. et al. Homeopathic treatment of pododermatitis in Magellanic penguins (Spheniscus magellanicus). Homeopathy, v. 110, n. 1, p. 62–66, 2021.

  8. TRAVAGIN, D.; BALBUENO, M.; COELHO, C. P. Use of homeopathic Arnica montana 30cH for postoperative analgesia in female dogs undergoing elective ovariohysterectomy. Homeopathy, v. 110, n. 1, p. 72–78, 2021.

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