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Foto do escritorM.V. Claudia Barbieri

Ansiedade e Stress em Pets: é possível tratar com fitoterápicos e nutracêuticos?

Os animais são submetidos a uma variedade de fatores de estresse no decorrer das suas vidas, incluindo mudanças de casa, restrições espaciais, aumento dos níveis ruído, isolamento social, etc. O estresse em cães pode ser reconhecido por comportamentos como latidos excessivos, vigilância ativa e movimentos repetitivos tais como pular muito ou correr atrás da cauda. Em gatos, o stress pode se manifestar através de comportamentos indesejáveis como urinar fora da caixa, além de vocalização excessiva, agressividade ou limpar-se obsessivamente. Outro fator comum de estresse são as visitas ao veterinário, sendo que a redução dos níveis de estresse deveria ser uma prioridade, a fim de evitar o desenvolvimento da ansiedade no decorrer da vida do paciente [3].

 

Da mesma forma que ocorre com seres humanos, nos animais os distúrbios de estresse e ansiedade também são devidos a um desequilíbrio nos neurotransmissores. Os agentes mais importantes na patogênese dos distúrbios de ansiedade são os ácidos γ-aminobutírico (GABA), serotonina, dopamina e norepinefrina. Além disso, neuropeptídeos como colecistoquinina, ocitocina, vasopressina, peptídeo natriurético atrial (ANP) e a substância P também estão implicadas na modulação de comportamentos relacionados ao estresse e à ansiedade [3].

 

O GABA (ácido γ-Aminobutírico) é o principal neurotransmissor inibitório do cérebro de mamíferos e muitas drogas ansiolíticas exercem sua ação através de interações com seus receptores. Além disso, o envolvimento do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) e o desequilíbrio do sistema imunológico também podem mediar o estresse em animais, produzindo reações de agressão ou depressão, visto que a super ativação do eixo HPA leva à estimulação da glândula adrenal que libera cortisol, adrenalina e noradrenalina [3].

 

No tratamento convencional são utilizadas drogas ansiolíticas disponíveis no mercado, porém as mesmas apresentam efeitos adversos. A boa notícia é que numa abordagem holística podemos lançar mão de várias opções de tratamento, desde a abordagem homeopática, terapia floral, Reiki, fitoterápicos e nutracêuticos, sendo estes dois últimos  tema do artigo de hoje!

 

Os fitoterápicos e nutracêuticos são efetivos em reduzir a ansiedade e o stress e atuam através de diversos mecanismos de ação, alterando níveis de neurotransmissores e atuando sobre o eixo HPA, exercendo efeitos calmantes com pouco ou nenhum efeito colateral [3].

 

Por exemplo, algumas vitaminas atuam como cofatores na biossíntese de vários neurotransmissores. As vitaminas C, D, e E e ácidos graxos ômega-3 são conhecidos por aumentar a produção de dopamina. Já as vitaminas B, D, selênio e ômega-3 também aumentam a produção de serotonina. Assim, uma abordagem dietética adequada pode corrigir os caminhos neuroquímicos subjacentes sem os efeitos colaterais associados às drogas ansiolíticas que podem simplesmente mascarar o problema [3].

 

A seguir, abordaremos alguns nutracêuticos e fitoterápicos que podem auxiliar a combater a ansiedade e stress no seu pet!

 

1)     Erva de São João (Hypericum perforatum)

Planta perene aromática nativa de Europa e partes da Ásia, América do Norte e América do Sul. Tem sido usado tradicionalmente para o tratamento da ansiedade e depressão, além de ter ação tonificante para os nervos. Uma grande quantidade de estudos clínicos e experimentais com animais demonstram que esta planta exerce sua ação através de mecanismos similares aos antidepressivos tricíclicos (p. ex. amitriptilina) ou inibidores de recaptação de serotonina (p. ex. Citalopram e Fluoxetina). A erva de São João age aumentando os níveis cerebrais de serotonina e normalizando o eixo HPA, reduzindo ansiedade, inflamação e stress oxidativo [3].

 

2)     Ashwagandha (Withania somnifera)

Pertence à família Solanaceae sendo utilizada há séculos em remédios tradicionais indianos, chineses e árabes. Seu extrato tem efeitos anti-inflamatórios, antitumorais, anti-stress, antioxidante, imunomodulador, além de ter propriedades hematopoiéticas. Alguns estudos indicaram que roedores tratados com Ashwagandha demonstraram um nível menor de ansiedade em comparação com o grupo controle, que foi tratado com benzodiazepínicos, tendo assim indicação para manejo de stress e ansiedade em animais [3, 4].

 

3)     Valeriana (Valeriana officinalis)

É uma raiz comumente usada para o tratamento da insônia e da ansiedade. Extratos de valeriana aumentam a síntese de GABA, além de reduzir a sua recaptação na fenda sináptica. O ácido valérico, um composto ativo de raiz da Valeriana, exerce sua ação através da modulação dos receptores GABA [3, 4]. A sua combinação com a Passiflora tem bom efeito.

 

Além do ácido valérico, os demais compostos fitoquímicos contidos nos extratos de valeriana possuem efeitos ansiolíticos em animais. Estes compostos fitoquímicos também modulam o eixo HPA, regulando os níveis de cortisol. Deste modo, a valeriana pode ser utilizada em terapias contra ansiedade e stress, a fim de melhorar a condição do animal ao mesmo tempo que reduz efeitos colaterais dos ansiolíticos normalmente utilizados [3, 4].

 

É importante notar que deve ser usada quando for extremamente necessária, por períodos determinados, visto que pode induzir algum tipo de dependência.

 

4)     L-theanina

Trata-se de um aminoácido encontrado no chá verde (Camellia sinensis), que exerce várias ações sobre o sistema nervoso central. Sugere-se que a L-Theanina aumenta os níveis dos neurotransmissores GABA, serotonina e dopamina, reduzindo respostas ao estresse [4,5]. Estudos em humanos demonstraram que a administração da L-Theanina melhora a atividade de ondas alfa cerebrais, que são responsáveis por um estado alerta, porém relaxado, sem promover sonolência [2, 4].

 

Estudos em cães e gatos tem demonstrando que este nutracêutico pode melhorar problemas relacionados a medos e ansiedade. Em gatos, a L-theanina é particularmente útil para o manejo de comportamentos indesejáveis diante de situações de stress, tais como eliminações inadequados, excesso de arranhadura, agressividade e luta por dominância de espaço [2].

 

5)     Melissa Officinalis

Popularmente conhecida como Erva-cidreira, trata-se de uma planta da família das Lamiaceae, originária da Ásia e Europa, principalmente da região do Mediterrâneo, tendo sido introduzida no Brasil há mais de um século [7].

 

Estimula os receptores GABA, tendo efeito relaxante ao mesmo tempo que inibe a MAO-A, responsável pela degradação da serotonina e noradrenalina. Assim, tem ação anti stress, sedativa, ansiolítica, antidepressiva e neuroprotetiva, sendo muito eficaz no tratamento da ansiedade e excitabilidade dos cães [3].

 

6)     Passiflora (Passiflora incarnata)

A passiflora é conhecida popularmente pelas suas propriedades sedativas, hipnóticas e ansiolíticas. Vários efeitos farmacológicos da Passiflora são mediados através da modulação do sistema GABA e do aumento da Melatonina.

 

Um estudo duplo cego comparou a eficácia do extrato de passiflora com o oxazepam no tratamento de pacientes com transtorno de ansiedade generalizada. Os resultados sugeriram que a passiflora é eficaz para o manejo do transtorno de ansiedade generalizada com poucos efeitos colaterais sobre o desempenho das atividades diárias [1, 3], não causando dependência.

 

7)     RELORA® (Magnolia Officinalis e Phellodendrum Amurense)

Os extratos de Magnolia officinalis e de Phellodendron amurense são utilizados tradicionalmente há quase 2000 anos pela medicina chinesa para restabelecer o bem-estar emocional. Os seus componentes ativos, o honokiol e a berberina, revelaram-se potentes agentes ansiolíticos capazes de reduzir comportamentos indesejáveis relacionados ao stress ao regular os níveis de cortisol quando este assume níveis excessivos no sangue. Conhecidos como adaptógenos, esses extratos ajudam naturalmente a reduzir a ansiedade, acalmar o estresse e proteger as defesas imunológicas [6].

 

Conclusões

A ansiedade e o estresse podem ser estimulados por fatores sociais, ambientais, nutricionais ou podem ser relacionados à idade dos animais. Atualmente, existem evidências que demonstram que os nutracêuticos e fitoterápicos são muito eficazes no tratamento destes distúrbios, com a vantagem de não apresentarem os efeitos colaterais dos ansiolíticos.

 

 REFERÊNCIAS:

 

1)     AKHONDZADEH, S. et al. Passionflower in the treatment of opiate withdrawal: a double-blind randomized controlled trial. J Clin Pharm Ther 2001b; v. 26; pp: 369-373.

2)     DRAMARD, V. et al. Effect of l-theanine tablets in reducing stress-related emotional signs in cats: an open-label field study. Irish Veterinary Journal, v. 71, Article number: 21 (2018).

3)     GUPTA, R. Nutraceuticals: Efficacy, safety and toxicity. Ed. Elsevier, 2016.

4)     GUPTA, R. et al. Nutraceuticals in Veterinary Medicine. Ed. Springer Nature Switzerland AG, 2019.

5)     PIKE, A. L. et al. An open-label prospective study of the use of L-theanine (Anxitane) in storm-sensitive client-owned dogs. J Vet Behav: Clin Applications Res. 2015;10(4):324–31.

6)     TALBOT, S.M. et. Al. Effect of Magnolia officinalis and Phellodendron amurense (Relora® ) on cortisol and psychological mood state in moderately stressed subjects. Journal of the International Society of Sports Nutrition 2013, 10:37.

7)     WYNN, S.; FOUGÈRE, B. Veterinary Herbal Medicine. Mosby, Inc., 2007.




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