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Foto do escritorM.V. Claudia Barbieri

Saúde ocular: cuidando dos olhos do seu pet de forma preventiva

A visão é um sentido muito importante para todos os seres humanos e animais, não é mesmo? E quando nosso amigo de quatro patas apresenta algum problema de visão, seja pelo avançar da idade ou por algum outro fator, como traumas ou doenças crônicas que podem afetar a visão, ficamos muito aflitos com a possibilidade que ele fique cego ou tenha dor ou desconforto. Então, vamos entender como isso ocorre e ver opções para evitar que seu amigão tenha a visão comprometida!


O olho é uma estrutura muito ativa do ponto de vista metabólico, recebendo e absorvendo a luz de forma contínua. Deste modo, considera-se que na origem de quase todas as doenças oculares, como catarata, glaucoma, uveíte e degeneração retiniana está o stress oxidativo e inflamatório, porém estes fatores são ainda pouco reconhecidos e considerados como alvo para prevenção [6].


O estresse oxidativo ocorre em processos inflamatórios de conjuntiva, córnea e úvea, na formação de cataratas, na degeneração de retina e em condições patológicas do nervo óptico, neurite e glaucoma, sendo que o cristalino e a retina são os tecidos mais afetados por este processo. No que tange à conjuntiva e à córnea, a taxa metabólica não é tão elevada, porém, são as partes mais expostas do olho e, por este motivo, o stress oxidativo associado à radiação ultravioleta e aos alérgenos é frequente [6].


Desta forma, o combate aos processos oxidativos oculares é de suma importância do ponto de vista terapêutico [6]. Nos últimos anos, vários estudos tem mostrado o papel de diferentes micronutrientes e nutracêuticos no tratamento de doenças oculares e novas terapias para redução da inflamação e do estresse oxidativo estão sendo utilizadas com bons resultados. A seguir, vejamos alguns destes nutracêuticos.


PEA (Palmitoiletanolamida): 

Pertence à família das N-aciletanolaminas, que inclui o principal representante dos endocanabinóides que é a anandamida. Os endocanabinóides ligam-se aos receptores com o mesmo nome e estão envolvidos na regulação da inflamação e da dor. É considerada um “endocanabinóide-like” - não se liga diretamente aos receptores endocanabinóides, mas atua como mediador e participa na resposta biológica aos canabinóides endógenos impedindo a sua degradação, prolongando assim a sua ação.

Tem conhecida atividade antinflamatória e analgésica e isto ocorre por diversos mecanismos. A ativação dos PPARs exerce propriedades antinflamatórias inibindo a expressão de genes pró-inflamatórios e reduzindo as citocinas e metaloproteases de matriz, além de estimular o catabolismo de eicosanoides pró-inflamatórios. Esta atividade antinflamatória também melhora a qualidade e estabilidade do filme lacrimal, visto que a diminuição da inflamação induz um aumento da mucina secretada pelas células de Goblet e uma melhora da secreção de lipídeos pelas glândulas de meibômio e glândulas auxiliares, melhorando a osmolaridade do filme lacrimal [8]. A PEA protege as células endógenas e por sua atividade antinflamatória, antioxidante e citoprotetora, tem boa indicação no tratamento de retinopatias, especialmente relacionadas a glaucoma e diabetes, ambas doenças ligadas a inflamação crônica [2].


ASTAXANTINA:

A astaxantina é um pigmento carotenoide natural pertencente à família das xantofilas, encontrada em ambientes marinhos, especialmente em microalgas e frutos do mar.  Devido a sua estrutura molecular única, a astaxantina apresenta propriedades biológicas importantes, como ação antioxidante, antinflamatória e antiapoptótica. Evidências científicas sugerem que a astaxantina é eficaz na prevenção e tratamento de várias doenças oculares, pois combate o estresse oxidativo cumulativo e inflamação. Sua eficácia nas retinopatias, distúrbios da superfície ocular, uveíte e catarata é relatada em inúmeros estudos com animais e humanos, que destacam sua capacidade de modular vários caminhos metabólicos, restaurando a homeostase celular [1].


ZEAXANTINA E LUTEÍNA: São dois pigmentos carotenóides da subclasse xantofila, estão presentes em uma alta concentração em a retina, especialmente na mácula. Eles funcionam como um filtro protegendo a mácula da luz azul e também como antioxidantes estruturalmente ligados que protegem o entorno células oculares contra a danos oxidativos. Estudos indicam que a luteína e a zeaxantina podem reduzir o risco de várias doenças oftalmológicas, especialmente a degeneração macular relacionada à idade. Além disso, tem capacidade de inibir o crescimento e causar apoptose de células tumorais malignas tais como células de melanoma ocular [7].


LACTOFERRINA: Trata-se de uma glicoproteína produzida e secretada por células epiteliais mucosas e neutrófilos em várias espécies de mamíferos.  Devido a suas atividades antinflamatórias, antioxidantes e antimicrobianas, a aplicação tópica da lactoferrina desempenha um papel crucial na manutenção da saúde da superfície ocular [5]. Ela protege as células da superfície ocular dos efeitos deletérios da radiação ultravioleta e reduz as respostas teciduais associadas a alérgenos. É bastante útil em animais que sofrem de ceratoconjuntivite seca (KCS), pois frequentemente apresentam baixos níveis de lactoferrina na superfície ocular, tornando a sua suplementação benéfica [6].


ÔMEGA 3, EPA e DHA: Os ácidos graxos polinsaturados ômega-3 são componentes estruturais fundamentais da membrana celular, bem como precursores para a síntese de numerosas substâncias biologicamente ativas. Entre as suas várias propriedades, destacamos as propriedades anti-inflamatórias e epiteliotróficas. Além disso, promovem a integridade da córnea e a produção de lágrimas, entre outras [3].


VITAMINA A: Está envolvida no metabolismo, crescimento e diferenciação do epitélio da superfície ocular. A deficiência de vitamina A causada por desnutrição é uma das principais causas de cegueira evitável. Pacientes com deficiência desta vitamina, a longo prazo podem desenvolver complicações na superfície ocular tais como queratinização conjuntival, epiteliopatia corneana e ulceração [3].


VITAMINA C: Trata-se de vitamina solúvel em água necessária para o funcionamento de várias enzimas, sendo encontrada naturalmente em vários alimentos. A película lacrimal contém altos níveis de vitamina C, refletindo a alta necessidade de antioxidantes na superfície ocular. Além disso, a vitamina C desempenha um papel importante nos processos de cicatrização de feridas na córnea. Alguns estudos demonstraram que a associação de Vitamina C, E, A e astaxantina melhoraram significativamente a função da glândula lacrimal, com consequente estabilidade do filme lacrimal e redução de danos ao epitélio da córnea [3]


De modo geral, os principais sinais de problemas nos olhos são secreção excessiva, dificuldade em abrir os olhos ou ficar piscando exageradamente, alterações de coloração, irritação da conjuntiva, olhos vermelhos e alterações de visão. Mas sabemos que algumas raças apresentam maior risco para o desenvolvimento de doenças oculares seja por questões genéticas ou pela própria anatomia dos olhos. As raças braquicefálicas, que tem os olhos mais expostos, são mais propensas a lesões e ressecamento da superfície ocular, entre outros. O mesmo se aplica aos gatos persas e os Exóticos. Raças como Poodle, Schnauzer e Cocker, por sua vez, são mais propensos a desenvolver catarata. Já outras raças como Sharpei, Basset hound, Beagle, Samoieda e Husky, tem propensão a desenvolver glaucoma.


Assim, minha recomendação é que os tutores fiquem sempre atentos a alterações nos olhos e no caso de animais de raças mais propensas, o cuidado extra com a saúde ocular é importante, pois se agirmos de forma preventiva, com a utilização de nutracêuticos e fazendo avaliações oftálmicas periódicas, podemos evitar o desenvolvimento de problemas mais sérios.

 

REFERÊNCIAS:

1)     GIANNACCARE, G. et al. Clinical Applications of Astaxanthin in the Treatment of Ocular Diseases: Emerging Insights. Mar. Drugs v. 18, n. 239, May 2020.

2)     HESSELIK, JMK et al. Palmitoylethanolamide, a Natural Retinoprotectant: Its Putative Relevance for the Treatment of Glaucoma and Diabetic Retinopathy. Journal of Ophthalmology Volume 2015, Article ID 430596, 9 pages.

3)     PELLEGRINI, M. et al. The Role of Nutrition and Nutritional Supplements in Ocular Surface Diseases. Nutrients, v. 12, n. 952; March 2020.

4)     SULAIMAN, R.S. et al. Natural product inhibitors of ocular angiogenesis. Exp Eye Res. 2014 December ; 0: 161–171.Dec. 2015.

5)     VAGGE, A. et al. Therapeutic Effects of Lactoferrin in Ocular Diseases: From Dry Eye Disease to Infections. Int. J. Mol. Sci., v. 21, n. 6668, 2020.

6)     WILLIAMS, D. Oxidative Stress and the Eye. Vet Clin Small Anim 38 (2008) 179–192

7)   YANG, S. et al. Zeaxanthin and Lutein in the Management of Eye Diseases. Journal of Ophthalmology V. 2016, Art. ID 4915916, 2 pages. Hindawi Publishing Corporation Journal of Ophthalmology.

8)     ZAZZO, A di. et al. Use of Topical Cannabinomimetic Palmitoylethanolamide in Ocular Surface Disease Associated with Antiglaucoma Medications. Journal of Ocular Pharmacology and Therapeutics. V. 33, Nr. 9, 2017.





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