O Viscum Album é uma planta parasita que cresce nos caules e copas de árvores de folha larga, especialmente de macieira, carvalho, pinheiro e olmo, tendo sido usada desde os celtas para tratar inúmeras doenças. Em 1904, começou a ser utilizada pela medicina antroposófica, para o tratamento do câncer. Atualmente, trata-se de uma das terapias complementares mais estudadas para o manejo de neoplasias e em alguns países da Europa, as preparações feitas a partir de Viscum album estão entre as drogas mais prescritas para pacientes com câncer [2].
O mecanismo da ação antineoplásica do Viscum album tem despertado muito interesse desde que suas qualidades citotóxicas e imunomoduladoras foram documentadas na década de 90[6]. Desde então, diversos estudos buscaram identificar a dose terapêutica, o tempo e o regime de tratamento mais eficazes[1], observando-se que impacto de suas propriedades farmacológicas se reflete no aumento de sobrevida dos pacientes, inclusive em pacientes animais, conforme diversos estudos identificados[2]. Existe também o Viscum album ultradiluído ou homeopático injetável, que tem sido cada vez mais utilizado em pacientes com câncer, pois além de ser efetivo, não provoca efeitos colaterais.
E o que torna o Viscum tão eficaz?
A composição do Viscum Album é bastante complexa. Dentre seus compostos bioativos, podemos ressaltar as viscotoxinas, lectinas, triterpenos, flavonoides, alcalóides, ácidos fenólicos e polissacarídeos[2]. As viscotoxinas são peptídeos antimicrobianos que fazem parte do sistema de defesa da planta, exercendo efeito imunomodulador nos pacientes, além de apresentarem alta citotoxicidade para as células tumorais [4].
Já as lectinas e os triterpenos possuem ação citotóxica seletiva, ou seja, são tóxicos para as células tumorais, ao mesmo tempo que preservam as células saudáveis. A ação combinada destes dois compostos é, portanto, responsável por uma maior indução da apoptose das células tumorais[4]. Finalmente, os flavonoides, alcaloides e ácidos fenólicos, contribuem com a ação anti-inflamatória[3]. Existem ainda outros componentes, cujos mecanismos de ação ainda não estão totalmente elucidados.
Ele também ativa a cascata das caspases, que são proteases (enzimas que quebram ligações peptídicas entre os aminoácidos das proteínas), essenciais na apoptose celular (morte celular programada). Falhas neste processo são uma das principais causas para o desenvolvimento de tumores e doenças autoimunes [2].
Além disso, estudos também apontaram a capacidade antioxidante do Viscum Album, indicando uma boa ação contra radicais livres e um bom efeito protetor contra geração de hidroperóxidos [5,7].
Adicionalmente, pesquisas mostram que o Viscum Album possui atividade antiangiogênica, ou seja, reduz a vascularização e, por conseguinte, o crescimento tumoral[4]. Recentemente, foi sugerido que o Viscum exerce um potente efeito anti-inflamatório através da inibição seletiva da expressão da proteína COX (ciclooxigenase), o que pode contribuir para a ação antitumoral [3].
Ainda que o Viscum Album não possua ação detoxificante, ele protege o DNA das células hepáticas, sendo, por este motivo, um bom adjunto à quimioterapia, auxiliando na hepatoproteção [7]. Existem, ainda, uma série de estudos e revisões que demonstram a melhoria da qualidade de vida dos pacientes, visto que além dos efeitos citotóxico seletivo e imunomodulador, age diminuindo a fadiga, melhorando qualidade do sono e o apetite, reduzindo náuseas, depressão, ansiedade e dor [2].
Deve-se ressaltar que o efeito benéfico do Viscum Album ocorre devido à ação sinérgica dos seus compostos e não dos seus componentes de forma isolada. Além disso, deve-se notar que a tintura mãe precisa ser colhida tanto no verão quanto no inverno, devendo ser misturadas a fim de obter o efeito oncológico, representado pela imunomodulação em conjunto com a citotoxicidade [2].
O Viscum Album pode ser utilizado como tratamento principal ou como adjuvante na quimioterapia, além de ter função no tratamento paliativo. Além de ser utilizado no câncer, pode ser aplicado com sucesso no pós-câncer (ou seja, quando o tumor foi retirado, a fim de evitar recidiva). Além disso, tem indicação em pacientes idosos e fadigados, agindo na redução da dor, melhorando a imunidade, o apetite e o ânimo do paciente, além de proporcionar uma maior sobrevida.
Em resumo, o Viscum age na:
Redução da fadiga e melhoria da qualidade de vida;
Aumento da sobrevida;
Redução de inflamação e dores;
Melhoria do apetite e ânimo;
Inibição do crescimento tumoral: aumenta apoptose, reduz neovascularização e promove regressão em casos específicos;
Redução da incidência de infecções;
Melhoria da tolerância à quimioterapia;
Redução da imunossupressão provocada pela quimioterapia;
Pontos importantes:
O Viscum Album não interfere no tratamento quimioterápico, podendo ser utilizado em conjunto com o mesmo, melhorando a resposta do paciente e reduzindo os efeitos colaterais frequentemente observados nesta modalidade[2].
O Viscum Album não é promessa de cura, mas sim de uma boa qualidade de vida e aumento da sobrevida. Contudo, é importante ressaltar que ainda que se retire o tumor cirurgicamente, pode haver recidiva. O câncer é uma enfermidade complexa que envolve vários sistemas e por isso necessita de vigilância constante.
O Viscum Album não tem contraindicações e pode ser utilizado como tratamento principal ou adjuvante.
REFERÊNCIAS:
1) Bonamin, L.V. et al. Viscum album (L.) in experimental animal tumors: A meta-analysis. Experimental and Therapeutical Medicine, n.13: pp.2723-2740, Sept. 2017.
2) Carvalho, AC. Atividade anti-neoplásica de Viscum album (L) em tumores experimentais: revisão crítica e estudo experimental em tumor de Erlich. Tese de Doutorado. Universidade Paulista. 2015.
3) Hegde, P. et al. Viscum album Exerts Anti-Inflammatory Effect by Selectively Inhibiting Cytokine-Induced Expression of Cyclooxygenase-2. PLoS ONE 6(10): e26312. 2011. doi:10.1371/journal.pone.0026312
4) Nazaruk, J & Orlikowski, P. Phytochemical profile and therapeutic potential of Viscum album L. Natural Product Research: Formerly Natural Product, Mar. 2015, Letters, DOI: 10.1080/14786419.2015.1022776.
5) Önay-Uçar, E. et al., Antioxidant activity of Viscum album ssp. Album. Fitoterapia, n. 77, Sept. 2006, pp. 556–560.
6) Valle ACV. Viscum album no tratamento integrativo do colangiocarcinoma em cão (Cannis familiaris): relato de caso. Rev. de Edu. Cont. em Med. Vet.e Zootec. CRMV-SP. 2018; 16(2): 80-81.
7) Szurpnicka, A. et al. Biological activity of mistletoe: in vitro and in vivo studies
and mechanisms of action. Arch. Pharm. Res. V. 43, pp. 593–629, July, 2020. https://doi.org/10.1007/s12272-020-01247-w.
Comments