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Foto do escritorM.V. Claudia Barbieri

Desvendando as Alergias em Cães e Gatos: O que Você Precisa Saber

Constantemente recebo no consultório animais com problemas de alergias ou hipersensibilidades. Mas o que são essas alergias que tanto incomodam nossos pets?

 

Alergias ocorrem quando o sistema imunológico reconhece uma substância como prejudicial, reagindo de forma exagerada contra a mesma. Tais substâncias são denominadas alérgenos. Cães e gatos podem desenvolver alergia a várias substâncias como plantas, poeira, alimentos, medicamentos e até vacinas, que quando inaladas, ingeridas ou absorvidas, estimulam o sistema imunológico a produzir anticorpos.  Deste modo, quando o animal entrar em contato novamente com esta substância, haverá a liberação de histamina e outros mediadores inflamatórios, que resultarão em inflamação. A severidade da reação vai depender do grau de sensibilização do animal e da quantidade de antígenos envolvidos, podendo ir de uma leve vermelhidão ou coceira até uma reação anafilática que pode levar à morte.

 

Os sinais clínicos podem variar de acordo a via de entrada (contato, inalação, ingestão, etc.). Deste modo, a inalação de alérgenos, por exemplo, pode provocar inflamação do trato respiratório superior, traqueia e brônquios, resultando em coriza, secreção nasal ou asma. Os aerossóis, por sua vez, podem atingir os olhos, provocando conjuntivite e lacrimejamento, ao passo que a ingestão de alérgenos pode causar desequilíbrios intestinais, desencadeando diarreia e cólicas. Em contato com a pele, certos alérgenos podem desencadear processos inflamatórios e dermatites.

 

Atualmente, tem se observado um aumento no número de animais com alergias variadas, como dermatite atópica, hipersensibilidades alimentares, alergias à picada de pulgas, além de reações alérgicas a vacinas e medicamentos, o que faz do tema “alergia” um assunto vasto e complexo. Assim, neste post, vamos abordar brevemente algumas delas e futuramente, abordaremos as demais.

 

Vamos começar pela Dermatite Atópica...

Trata-se de uma síndrome crônica multifatorial de predisposição genética que se caracteriza pela inflamação da pele e coceira, sendo desencadeada principalmente por alérgenos ambientais, como poeira e ácaros, mas também alérgenos alimentares.

 

Cerca de 75% dos cães acometidos pela doença tem entre 6 meses a 3 anos de idade. As áreas mais afetadas são face (principalmente olhos e boca), patas, abdômen, região inguinal e axilar, extremidade das orelhas, pavilhão auricular externo, região genital e perianal. O ato de coçar ou lamber excessivamente algumas áreas, pode ocasionar lesões e contaminações secundárias, agravando o quadro.

 

Dentre as raças mais suscetíveis tem-se os Retrievers, Setters, Terriers, Beagle, Cocker, Shar Pei, Boxer e Bulldogue. Alguns estudos mostram que a dermatite atópica está relacionado a um defeito das células endoteliais, que produz falhas na barreira cutânea, aumentando a perda de água e a suscetibilidade à irritação. Também está relacionada a certas disfunções imunológicas, como o aumento da concentração de IgE alérgeno-específica. Dependendo do alérgeno ao qual o animal é sensível, a dermatite atópica pode ter caráter sazonal. 

 

Além de falhas nas células endoteliais e possíveis disfunções imunológicas, um estudo inglês publicado em 2019 mostrou que a severidade da coceira em cães com dermatite atópica estava diretamente ligada a distúrbios de comportamento como hiperatividade, coprofagia, excitação e ansiedade entre outros, o que poderia sugerir uma ligação entre a severidade da coceira e o estresse psicológico em cães que sofrem deste problema.

 

Infelizmente, até o presente momento, a dermatite atópica não tem cura, mas pode ser controlada de várias formas. O tratamento mais adequado é evitar, na medida do possível, a exposição ao alérgeno. Na medicina tradicional, a utilização de corticosteroides e drogas antipruriginosas é amplamente conhecida, mas há alternativas. O uso de produtos tópicos, como banhos com shampoos apropriados, loções e cremes que promovam a restruturação da barreira lipídica da pele, protegendo contra a perda de água, também auxiliam no controle dos sinais clínicos, reduzindo o desconforto do animal.


Além disso, o uso de nutracêuticos, como por exemplo, o ômega 3, curcumina, PEA e quercetina, entre outros, podem ser benéficos. A abordagem homeopática é possível, lembrando sempre que a homeopatia trata o paciente como um todo e não a doença em si, o que significa que não há um medicamento homeopático específico para a dermatite atópica, mas sim, para a totalidade sintomática do paciente. Em casos relacionados a comportamentos problemáticos, também pode se lançar mão de terapias que promovam a redução do stress, como por exemplo os Florais de Bach, que contribuem para a redução do desconforto e a melhoria da qualidade de vida do animal.

 

E as Alergias Alimentares?  

Estas também são bastante observadas na prática clínica. Inicialmente, vamos diferenciar a intolerância da alergia alimentar. A primeira pode ser entendida como uma reação adversa não imunomediada ao passo que a última é mediada pelo sistema imune. A alergia alimentar é reconhecidamente uma causa potencial de vários problemas dermatológicos e gastrointestinais no cão, já que cerca de 2% das proteínas ingeridas são absorvidas através do intestino na forma de grandes peptídeos que podem ser reconhecidos como estranhos pelo sistema imune, podendo desencadear reações alérgicas tanto a nível intestinal quanto dermatológico. A deficiência da barreira da mucosa intestinal e a perda da tolerância oral são fatores de risco para o desenvolvimento da doença. Os alimentos que mais frequentemente causam alergias em cães são frango, ovos, milho, trigo, soja e leite.

 

Não há predileção por raça, sexo ou idade, embora algumas raças sejam comumente afetadas. Dálmatas, West-Highland White Terrier, Collie, Shar Pei, Llasa Apso, Cocker Spaniel, Springer Spaniel, Schnauzer miniatura, Labrador Dachshund e Boxer estão entre as raças mais comumente afetadas. Embora a idade seja variável, pesquisas mostram que cerca de 33% dos casos em cães ocorrem em animais com menos de um ano de idade. Assim, ainda que a alergia alimentar possa ocorrer em qualquer fase na vida, ela deve sempre ser considerada quando se observa prurido (coceira) no cão jovem.

 

O principal sinal clínico é a coceira não responsiva a corticoide, sendo que em 20-30% dos casos, cães e gatos têm doenças alérgicas concomitantes, como atopia ou dermatite alérgica a pulga (DAPP). Somente 10% a 30% dos cães com alergia alimentar apresentam sinais clínicos gastrointestinais, como diarreia e vômitos.

 

O teste mais utilizado para o diagnóstico de alergias alimentares é a dieta de exclusão, na qual se remove todos os alimentos potencialmente alergênicos e se fornece uma dieta com alimentos inéditos por um período de 8 a 12 semanas. Alternativamente, pode ser feita uma dieta com proteínas hidrolisadas, que são mais facilmente absorvidas. É importante enfatizar que nenhum outro alimento deve ser fornecido durante o período do teste, sob pena de não se chegar a uma conclusão de quais alimentos estão causando a alergia.

 

Após o período da exclusão, o diagnóstico deve ser confirmado, através da inclusão individual dos alimentos previamente fornecidos. O resultado será confirmado com o retorno dos sinais clínicos entre 1 a 14 dias. Uma vez confirmada uma alergia alimentar, a dieta deverá ser baseada apenas em alimentos que não desencadeiem o processo alérgico.

 

Alternativamente, o diagnóstico também pode ser feito através de testes comerciais para avaliação de anticorpos através da saliva. Estes avaliam os anticorpos IgA e IgM na superfície mucosa do intestino para 24 alimentos comumente ingeridos por cães e gatos e, a partir do resultado, é possível a adequação da dieta de acordo com as necessidades do animal. O que deve ficar claro é que, uma vez encontrados os alimentos aos quais o animal é alérgico, os mesmos deverão ser excluídos da dieta, sob pena de retorno dos sinais clínicos. Aqui também podemos lançar mão do uso de nutracêuticos que são de grande valia no tratamento de alergias e hipersensibilidades alimentares, da mesma forma que o tratamento homeopático, que possibilita inclusive a dessensibilização, melhorando os sintomas e a qualidade de vida dos animais suscetíveis.

 

REFERÊNCIAS:

 

  1. CHAND, N. Standardized Turmeric and Curcumin In: Gupta, C.R. et al. Nutraceuticals in Veterinary Medicine, Springer, pp.3-23, 2019.

  2. GUEDON, N. & MUELLER, R. Atopic dermatitis in cats and dogs: a difficult disease for animals and owners. Clin Transl Allergy, (2018) 8:4. 

  3. HARVEY, N.D. et al. Behavioural Diferences in Dogs with Atopic Dermatitis Suggest Stress Could Be a Significant Problem Associated with Chronic Pruritus. Animals, 2019, 9, 813; doi:10.3390/ani9100813

  4. TIZARD, I. Hipersensibilidade do tipo I. In: TIZARD, I. Imunologia Veterinária. Cap. 28, Elsevier, 9 ed. Rio de Janeiro, 2014.

  5. VERLINDEN, A. et al. Food Allergy in Dogs and Cats: A Review. Critical Reviews in Food Science and Nutrition, 46:259–273 (2006).

  6. https://www.merckvetmanual.com/dog-owners/skin-disorders-of-dogs/allergies-in-dogs

  7. WHITE, S. Update on Food Allergy in the Dog and Cat. World Small Animal Veterinary Association World Congress Proceedings, United States, 2001.





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