Frequentemente escuto tutores comentando que não levam seu cão idoso para passear como faziam antigamente, pois o cão não se interessa mais pelo passeio, sente dificuldades ao andar e por isso só sai na rua para fazer as necessidades e retorna para casa...Como veterinária e tutora de uma cadelinha idosa digo que este é um comportamento equivocado…devemos lembrar que velhice não é doença e a idade avançada não é impedimento para fazer exercícios! É claro que algumas limitações são observadas, porém cabe a nós incentivarmos o animal a se movimentar e manter a sua rotina de exercícios.
O envelhecimento é um processo biológico complexo e inevitável que afeta diversas funções do organismo e assim como ocorre em humanos, os cães idosos podem realmente apresentar uma redução na resistência física, na capacidade cardiorrespiratória e na mobilidade. Contudo, isto não justifica que os exercícios sejam drasticamente reduzidos pois um menor nível de atividade pode levar à perda de massa muscular, rigidez articular e até mesmo ao desenvolvimento de problemas mais sérios como a redução da capacidade cognitiva. E é justamente por isto que é tão importante estimular o animal a fazer exercícios.
Manter uma rotina de exercícios adequada à idade e condição física do animal melhora a saúde cardiovascular, fortalece o sistema imunológico, evita sobrecarga articular e previne doenças degenerativas e promove uma melhor qualidade de vida. Nos cães idosos, a prática de exercícios auxilia na manutenção da mobilidade, pois o movimento articular durante o exercício aumenta a circulação do líquido sinovial, melhorando a nutrição da cartilagem, além de estimular a síntese de colágeno e proteoglicanos pelos condrócitos, que são as células da cartilagem, promovendo a regeneração e manutenção da matriz extracelular. O exercício também atua no fortalecimento e evita a perda de massa muscular, além de auxiliar na prevenção de diversas doenças crônicas.
Existem, inclusive, estudos científicos comprovando os benefícios dos exercício físico para a manutenção da cognição! Um estudo publicado em 2022, avaliou 11.574 cães de companhia inscritos no Dog Aging Project, um programa de pesquisa científica voltado para o estudo do envelhecimento canino, com o objetivo de mensurar o impacto da atividade física na capacidade cognitiva dos cães. Do mais de 11 mil cães, 287 apresentaram escores acima do limite clínico para disfunção cognitiva canina e ele concluíram que probabilidade de desenvolver disfunção cognitiva está negativamente correlacionada ao grau de atividade física, ou seja, a prática de exercícios pode atenuar os riscos de comprometimento da função cognitiva em cães idosos.
Além dos benefícios físicos, o exercício também tem um impacto significativo na saúde mental e emocional dos cães idosos. A estimulação proporcionada pelas caminhadas e outras formas de atividade física ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade, além de melhora o humor. O contato com o ambiente externo, a interação com o tutor e o estímulo sensorial promovem um estado emocional mais equilibrado que é essencial para o bem-estar do animal. A atividade física regular proporciona inúmeros benefícios para a saúde de forma global, contribuindo para uma vida mais longa e equilibrada. Por outro lado, o sedentarismo agrava os efeitos do envelhecimento, acelerando o declínio funcional e cognitivo e aumentando a vulnerabilidade a doenças crônicas.
Portanto, manter um nível adequado de atividade física é fundamental para preservar a autonomia e o conforto do cão na velhice. O ideal é incentivar a prática de exercícios desde cedo e adaptá-los ao longo da vida do animal pois enquanto cães jovens e adultos podem se beneficiar de atividades mais intensas, como corridas e agility, os cães idosos precisam de exercícios de baixo impacto, como caminhadas moderadas, fisioterapia e jogos interativos que não exijam grande esforço físico. O ideal é manter uma rotina de exercícios consistente, respeitando os limites individuais de cada cão e evitando atividades que possam causar dor ou desconforto.
Além disso, alguns cuidados são essenciais para garantir que a prática do exercício seja segura e benéfica. No verão, evitar horários de calor intenso para prevenir desidratação e queimaduras nas patas, oferecer água fresca durante e após a atividade e observar sinais de fadiga são medidas fundamentais para preservar a saúde do cão idoso. E no inverno, evitar temperaturas muito baixas, pois se o cão idoso ficar muito tempo exposto às baixas temperaturas, sua temperatura corporal cairá, o que pode causar vários problemas de saúde, já que maiores são as chances de problemas cardíacos e respiratórios. Neste caso, leve-o para se exercitar em horários onde as temperaturas estão mais amenas e estimule as atividades indoor, com algumas brincadeiras e fisioterapia se necessário.
Então, nada de achar que porque seu cão está velhinho que deve ficar quietinho em casa! Garantir que um cão idoso se mantenha ativo é um compromisso que reflete diretamente em sua felicidade e longevidade. O exercício físico não só contribui para a manutenção da saúde, como também fortalece o vínculo entre tutor e animal, promovendo momentos de alegria e conexão. Incorporar atividades diárias à rotina do seu pet é um investimento no seu bem-estar e na construção de uma vida mais plena e saudável.
Referências:
Bray EE, Raichlen DA, Forsyth KK, Promislow DEL, Alexander GE, MacLean EL; Dog Aging Project Consortium. Associations between physical activity and cognitive dysfunction in older companion dogs: results from the Dog Aging Project. Geroscience. 2023 Apr;45(2):645-661. doi: 10.1007/s11357-022-00655-8.
Smedberg, K et al. A pilot study of a joint outdoor exercise program for dog owners and dogs. Vol:.(1234567890) Scientific Reports, (2024) 14:14321, https://doi.org/10.1038/s41598-024-65033-0
McKenzie BA, Chen FL. Assessment and Management of Declining Physical Function in Aging Dogs. Top Companion Anim Med. 2022 Nov-Dec;51:100732. doi: 10.1016/j.tcam.2022.100732. Epub 2022 Oct 21. PMID: 36273752.
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